A estação vai mudar e, com ela, chega a temporada de doenças do inverno. Descubra quais são as mais comuns, entenda sobre cada uma delas, saiba como prevenir e tratar o seu filho
O outono está quase indo embora e logo virá o inverno. Isso significa que a temperatura começa a diminuir, o tempo tende a ficar mais seco e as crianças são as que mais sofrem. É aquela situação que você conhece bem: coriza, tosse, espirro, dificuldade para respirar… Mas tenha certeza de que não é só na sua casa que isso acontece. Um estudo recente da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, feito com 161 crianças da educação infantil, revelou que 43% dos alunos apresentavam pelo menos um vírus em seu aparelho respiratório nessa época do ano. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores coletaram e analisaram amostras de muco da garganta de cada um deles.
Mas por que certas doenças têm predileção pelo outono e inverno? “A incidência começa a aumentar no outono porque ocorre a diminuição da umidade relativa do ar. As partículas ficam em suspensão, os lugares permanecem mais fechados e isso favorece a contaminação ambiental”, diz o pediatra José Gabel, do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria. As quedas bruscas de temperatura em um mesmo dia e o aumento da poluição do ar contribuem para os quadros. “Tudo isso leva a uma maior incidência das doenças respiratórias, tanto inflamatórias como alérgicas”, afirma a otorrino pediatra Melissa Avelino, presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica.
Os médicos entrevistados são unânimes em dizer que, de fato, nas estações mais frias as salas de prontos-socorros e de consultórios pediátricos lotam. Um levantamento feito pela CRESCER junto ao DataSUS revelou que abril, maio e junho de 2016 foram os meses com maior número de crianças internadas na rede pública de saúde. Enquanto em janeiro ocorreram 530 mil internações, em junho foram 676 mil – um aumento de 27%.
Embora esse aumento de casos seja perceptível em regiões mais frias, ele também existe em locais quentes, como o Rio de Janeiro. “Nossa experiência em emergência mostra um crescimento de cerca de 20% das demandas de infeções no outono e no inverno”, conta Carla Dall Ollio, coordenadora da emergência pediátrica do Hospital Barra D’Or (RJ). “Não temos características climáticas tão rígidas como no sul do país, mas, devido à sazonalidade dos vírus, existe mesmo um maior acometimento das vias aéreas nessa época”, diz.
Mas será que os pais devem sempre correr para o hospital no primeiro espirro do filho? Não! “O recomendado é que o pediatra da criança faça uma avaliação. Se você leva direto ao pronto-socorro, pode ser que ela pegue alguma doença pior, porque ali circulam muitos vírus e bactérias. O PS é para emergências, mas está virando um grande ambulatório”, diz o infectologista pediátrico Victor Horácio, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). Segundo ele, só é necessário visitar o hospital quando há falta de ar, febre que não cede, sangramento, crise convulsiva ou mudança neurológica (como sonolência). A seguir, confira os problemas de saúde infantil mais comuns nesse período do ano e veja como ajudar o seu filho a passar por isso.
O que é — Infecção dos pulmões e das vias aéreas. É provocada pelo vírus influenza, transmitido pelas gotículas da tosse ou do espirro da pessoa infectada.
Sintomas — No início, são mais brandos, como garganta irritada, tosse seca e congestão nasal. Depois, pode surgir febre alta e muita dor no corpo. Conforme a tosse se intensifica, começa a expectoração. A maioria dos sintomas diminui em cerca de três ou cinco dias.
Tratamento — Além do repouso (evitando esforço físico), é fundamental que a criança esteja sempre bem hidratada. Por isso, ofereça muito líquido (água, sucos naturais, água de coco). Para baixar a febre e aliviar as dores, o pediatra pode indicar medicamentos específicos, bem como descongestionante nasal se ele julgar necessário.
Prevenção — A vacinação contra a influenza é a melhor forma de se proteger. Ela pode ser oferecida a partir dos 6 meses, e é gratuita na rede pública para crianças até 5 anos. Vale lembrar que, como o vírus se modifica anualmente, o mesmo ocorre com a vacina. Portanto, a imunização deve ser repetida todo ano.
Não confunda — Gripe e resfriado são doenças diferentes. Os sintomas, por mais parecidos que sejam, são mais fortes na gripe. O resfriado comum pode ser causado por vários vírus, sendo os mais frequentes o rinovírus e o adenovírus – e não há vacina para eles.
Complicação — Uma das complicações mais frequentes associadas à gripe é a pneumonia. Isso acontece porque, quando o corpo está infectado pelo vírus influenza, os mecanismos de defesa ficam debilitados, de forma que o organismo se torna mais suscetível a infecções secundárias – daí a importância da vacinação. A pneumonia pode ser viral (quando o próprio vírus da gripe se dissemina nos pulmões) ou bacteriana (quando bactérias, como os pneumococos, se aproveitam da fragilidade do organismo para se multiplicar).
O que é — Inflamação da membrana mucosa do nariz. As causas podem ser alérgicas (se o sistema imunológico reage a algum fator ambiental, como pó, bolor, pelo de animais, poluição) ou viral (quando há infecção por um vírus).
Sintomas — Secreção e congestão nasal. Nos quadros virais, também é comum haver tosse e febre baixa.
Tratamento — Ele depende da origem do problema e especificidade de cada paciente, porém, em todas as situações, a higienização nasal com soro fisiológico sempre é bem-vinda e ajuda a aliviar o desconforto.
Prevenção — Hidratação e, em casos alérgicos, é importante evitar o contato com a substância que provoca a reação do organismo. Por isso, os médicos recomendam fazer um controle ambiental rigoroso. Por exemplo, quando o problema é causado por pó e mofo, você deve adequar a casa às necessidades da criança. Tirar cortinas, carpetes, tapetes e bichos de pelúcia, deixar o ambiente arejado e passar pano úmido no chão diariamente são medidas que trazem efeitos benéficos.