Tela em excesso afeta cognição das crianças

Estudo publicado em revista médica indica mais do que isso gera impacto na cognição dos mais novos

O “dia ideal” para o desenvolvimento físico e cerebral de uma criança entre 5 e 13 anos deve ter de 9 a 11 horas de sono ininterrupto, ao menos uma hora de exercícios moderados e no máximo duas horas em frente a uma tela com fins recreativos. Mas poucas cumprem integralmente estas recomendações nos EUA — um fenômeno que especialistas acreditam se repetir no Brasil —, com o tempo de tela excessivo apresentando o maior custo em termos de desempenho cognitivo, indica estudo publicado esta semana no periódico médico “The Lancet Child & Adolescent Health”.

Tendo como base estas diretrizes de “dia ideal” para crianças e jovens apontadas em 2016 pela Sociedade Canadense para Fisiologia do Exercício (CSEP, na sigla em inglês), os cientistas liderados por Jeremy Walsh, do Instituto de Pesquisas do Hospital Infantil do Leste de Ontário (CHEO, também na sigla em inglês), aproveitaram a divulgação dos primeiros dados de outro amplo estudo envolvendo crianças nos EUA para avaliar seu impacto na cognição delas.

Comparando os desempenhos cognitivos globais destas crianças, os cientistas verificaram que quanto maior a adesão às recomendações canadenses de comportamento diário, melhor o resultado nos testes neste sentido realizados no âmbito do estudo ABCD, com as maiores diferenças a favor das que aderiam à limitação do “tempo de tela” para fins recreativos e das que cumpriam esta e a relativa ao sono.

Duas horas de tempo recreativo de tela das crianças estão associadas a um pior desenvolvimento cognitivo. Agora são necessárias mais pesquisas sobre a ligação entre tempo de tela e cognição, inclusive o estudo dos efeitos dos diferentes tipos de tempo de tela, seja educacional ou de entretenimento, ou se requer foco ou envolve ações multitarefas.

Exercícios regulares permanecem como comportamento mais importanteOs cientistas destacam ainda que, surpreendentemente, o nível de atividade física, que se sabe ter influência positiva no desenvolvimento cerebral, não pareceu ter grande impacto nesta medida de cognição global. Segundo eles, isso se deve talvez ao fato de a medida usada no estudo não ser sensível o bastante para tanto, ressaltando também que os exercícios regulares permanecem como o comportamento mais importante em termos de melhor saúde física, sem qualquer indicação de impacto negativo na cognição.

Os resultados do estudo são um novo alerta para pais e comunidade científica de que mais pesquisas são necessárias para jogar luz sobre se crianças jovens podem e devem ter tanto contato e tempo dedicado a esses tipos de tecnologias.

De três a quatro anos para cá, vemos cada vez mais estudos mostrando que o tempo de tela pode levar ao desenvolvimento de sintomas de transtornos como déficit de atenção e hiperatividade. Ainda não temos certeza, mas já há evidências disso.

Embora não haja estudos ou estatísticas sobre o tempo de tela de crianças e jovens no Brasil, é provável que a situação aqui seja similar à observada nos EUA, com poucos cumprindo as diretrizes canadenses, que também não existem no país. Aqui, as únicas recomendações neste sentido são da Sociedade Brasileira de Pediatria, que adverte que crianças com até 2 anos não devem ter qualquer tempo dedicado a este tipo de atividades, enquanto as de 2 a 5 devem passar no máximo 40 minutos diários em frente a estes aparelhos com supervisão dos pais. Já para as acima de 5 anos não existem orientações quanto a tempo máximo, apenas que o uso de mídias digitais deve ter horários restritos, com “começo, meio e fim”.

Fonte: O Globo

Crédito/Imagem

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