Uma questão inicial: pense bem sobre o momento de dar um celular para seu filho. A idade mais apropriada é em torno de 11 ou 12 anos. Um aparelho antigo dá conta de mensagens e ligações. Para redes sociais, como Instagram e Tiktok, o ideal é respeitar o limite dos aplicativos: 13 anos. Quanto mais cedo, mais imaturo o cérebro e maior as chances de dano e vício.
Limitar o tempo de uso é essencial. Mas importa também, e muito, a qualidade do consumo online da criança, e o tipo de atividade.
Quem está educando nossos filhos? Se eles passam 4 horas na escola, uma hora em interação conosco e 6 horas na tela, a resposta fica clara. São youtubers, publicitários, blogueiros, criadores de vídeos e os amigos. E as mensagens e valores contidos nessas interações pode ser muito ruins.
Precisamos exercer a função de curador de conteúdo. Ajudar a criança a desenvolver pensamento crítico, a analisar o conteúdo comum, e a escolher melhor. Mostre sites de museus interativos, canais educativos, de histórias, curiosidades e enigmas, experiências científicas, tutoriais de arte, filmes clássicos. Assista com ela, converse sobre o que viram. A internet tem muitas maravilhas.
Baseado em estudos, sugiro um ranking de atividades de entretenimento, do melhor para o pior: canais e sites educativos; filmes e desenhos adequados à idade; jogos on-line (apropriados e não violentos); vídeos de YouTubers infanto-juvenis (muita publicidade); e redes sociais. Essas são as mais perigosas: viciam, causam dano emocional, expõem a inúmeros riscos.
Ensinar sobre cidadania digital é essencial: privacidade, segurança, cuidado com dados e imagens, respeito ao próximo, intimidação, cyberbullying e interações suspeitas devem ser discutidos com as crianças
Os aplicativos de controle familiar ajudam muito no gerenciamento da vida digital das crianças. Permitem que você acompanhe o conteúdo, os sites visitados e aplique os limites e horários combinados com a participação dos filhos.
Redes sociais são território de golpistas e predadores: as contas devem ser fechadas e as interações apenas com pessoas conhecidas – inclusive no WhatsApp. Os aplicativos têm ferramentas próprias de controle, como a que sincroniza a sua conta com a da criança, permitindo que você a acompanhe e restrinja conteúdos inadequados.
Mas esses mecanismos não dão conta de tudo. Deixar uma criança percorrer a internet sozinha é como permitir que ande desacompanhado pela cidade. Os perigos são muitos e a vigilância deve ser constante. É preciso checar o que estão fazendo, jogando e assistindo, e com quem interagem em games, mensagens e comentários.
E aí surge uma polêmica: a privacidade na adolescência. Para muitos, ela é um direito, e precisa ser preservada. A relação deveria ser de confiança, orientação e construção de autonomia. Certíssimo, mas o celular complica muito a questão. Nessa fase da vida há uma desejo natural de transgredir, de imitar o comportamento do grupo, contrariando os pais. Soma-se a isso uma dificuldade de avaliar riscos e a sensação de invulnerabilidade, também típicas da idade.
Como a internet amplia os grupos e multiplica os riscos exponencialmente, um coquetel explosivo se configura. Há muitos casos de adolescentes que estavam interagindo com estranhos, sendo ameaçados por golpistas, participando de desafios perigosos ou sendo vítimas de bullying sem que os pais soubessem. Meninos e meninas legais, cabeça boa, confiáveis.
Por isso, em nome da segurança, penso que os pais devem ter a senha do celular dos filhos. Isso pode constar nos combinados, assim como a forma e os limites para a vigilância – por exemplo, no que tange a mensagens entre amigos e namorados. Não deve ser uma invasão da vida privada, mas uma forma de cuidado e amor.
Afinal, filhos são nossa inexorável responsabilidade.
Fonte: O Globo / Daniel Becker