O Excesso de tecnologia pode ser prejudicial?

Você está no restaurante e na mesa ao lado estão pais com uma criança de 2 anos que não pára quieta na cadeira, a mãe então tira rapidamente da bolsa um iPad, liga no mais novo video da Galinha Pintadinha e a criança fica paralisada, hipnotizada, e todos almoçam em paz.

Sala de espera do consultório, abro a porta para chamar o próximo paciente, há gibis, brinquedos, playground, de 5 pacientes infantis na sala, 3 estão sentados com os olhos atentos ao celular em seus joguinhos e redes sociais.

Essas são situações corriqueiras atualmente, que aos olhos de pessoas mais velhas podem parecer estranhas, mas para a nova geração não provocam estranhamento.

Mas isso é saudável? Até que ponto? Existe um limite para a exposição das crianças a tanta tecnologia?

No Brasil, 76% das crianças entre 3 e 5 anos sabem ligar o computador ou tablet, 73% jogam online, 42% sabem usar um smartfone. Se extrapolarmos as estatísticas para crianças de 6 a 9 anos os números pulam para 62% participam do mundo digital, 54% estão no Facebook (que aliás, tem idade mínima de 13 anos), 21% têm e-mail.

Já existe comprovação de que a exposição infantil excessiva à tecnologia é prejudicial sim aos pequenos. De diversas maneiras.

Entre 0 e 2 anos, o cérebro da criança triplica de tamanho e continua seu desenvolvimento até os 21 anos de idade. O desenvolvimento inicial do cérebro é determinado por estímulos ambientais. Estímulos provocados pela exposição a tecnologias (smartfones, iPads, TV, internet) afetam negativamente seu desenvolvimento e podem causar déficit de atenção, atrasos cognitivos e de aprendizagem, aumento de impulsividade e da auto-regulação, ou seja, mais birras!

Em termos psico-cognitivos expõe a criança ao risco do desligamento do convívio e da interação social, provocando um afastamento da realidade com o entretenimento permanente. Além disso, pode desenvolver nela a incapacidade de lidar com o ócio. Sabe aquela agitação inexplicada, aquela insatisfação permanente, aquela criança que não consegue ficar parada um minuto? Pois então!

Pode também desenvolver a perda da criatividade e redução da capacidade de concentração, é a chamada Síndrome de “Demência Digital”, que ja tem sido relatada em criança em idade escolar. Há pesquisas que recomendam a proibição do uso de smartfones até os 12 anos de idade, pois privam as crianças de fatores importantes para seu desenvolvimento cerebral e físico, que seriam o movimento, toque, conexão e natureza. Por esse motivo foi comprovado que esses aparelhos contribuem para o desenvolvimento de retardo e doença mental como autismo, psicose, comportamento infantil problemático e deficit de atenção.

Outro importante alerta feito pelo Public Health England foi que, além de comprovar que as crianças estão desenvolvendo problemas de saúde mental decorrentes do excesso de tempo que passam na internet, aquelas que passam mais de quatro horas conectadas diariamente correm mais risco de desenvolverem problemas sociais, depressão, transtorno bipolar, transtorno de apego, ansiedade e baixa autoestima.

Em termos físicos encontramos dois grandes problemas: desenvolvimento de obesidade e privação de sono.

O uso de TV e vídeo game está relacionado com desenvolvimento de sedentarismo e, consequentemente, aumento da obesidade desde 2005. Atualmente a incidência apenas aumenta com o aumento e melhoria dos aparelhos eletrônicos e a facilidade de acesso a eles. Crianças que possuem aparelhos eletrônicos em seus quartos têm 30% mais chance  de desenvolver obesidade. Não podemos deixar de lembrar de todos os malefícios que a obesidade traz consigo, diabetes, hipercolesterolemia, problemas ortopédicos, problemas cardiovasculares, hipertensão arterial, apneia do sono, bulling, diminuição da expectativa de vida.

Outro grande problema que a exposição excessiva à tecnologia provoca nas crianças é a privação do sono. A luz emitida pelos aparelhos boqueia a liberação do hormônio melatonina, produzido na glândula pineal, importante na regulação do ciclo vigília-sono e do metabolismo energético. Em pesquisa realizada no Boston College, constataram que 75% das crianças entre 9 e 10 anos são privados de sono e como consequência apresentam impacto negativo nas notas escolares. A Universidade da Califórnia, em Berkeley, realizo outra pesquisa que demonstrou que crianças que têm acesso smartfones e tablets antes de adormecerem, dormem em media, 21 minutos a menos que aquelas que não usam essa tecnologia à noite. Elas também relatam sentir-se mais prejudicada pela privação do sono.

Dores de cabeça, alterações posturais e na visão são também prejuízos ja pesquisados e causados pelo excesso de exposição das crianças à tecnologia.

Portanto, as recomendações internacionais são:

De 0 a 2 anos – Nenhuma exposição a qualquer tipo de tecnologia

De 3 a 5 anos –  1 hora/dia – apenas TV com conteúdo não violento

De 6 a 12 anos – 2 horas/dia – apenas TV com conteúdo não violento

De 13 a 18 anos – 2 horas/dia – TV com conteúdo não violento e Dispositivos Portáteis (Smartfones, Tabletes),

De 13 a 18 anos – 30 minutos/dia – Video Games com jogos não violentos/violentos

* Jogos online violentos ou com conteúdo pornográfico NUNCA são recomendados.

Fonte: andresafigueiredo.site.med.br

Crédito/Imagem

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