A chegada do inverno é sinônimo de consultórios pediátricos e pronto-socorros lotados de crianças doentes – e de pais preocupados. Segundo dados recentes do Ministério da Saúde, o pico de internações hospitalares causados por doenças respiratórias, por exemplo, acontece entre o início de abril e o final de julho. Isso ocorre por causa da sazonalidade de certos tipos de vírus, como o da gripe, que é mais comum nessa época do ano. E, além disso, por conta do frio, a tendência é ficarmos em ambientes fechados, o que facilita a transmissão.
Entre as crianças, a maior parte das hospitalizações se dá até os 5 anos, como já demonstraram inúmeros estudos. Tudo porque o organismo delas ainda não sabe se defender totalmente, tornando-as alvos mais fáceis. O desenvolvimento e a produção de anticorpos só acontece na adolescência, por volta dos 15 anos. Mas calma, nem tudo está perdido. Em primeiro lugar, que tal entender melhor como se desenvolve o sistema imunológico?
ENTENDA O SISTEMA IMUNOLÓGICO
O sistema imunológico é formado por uma rede de células e moléculas dispersas pelo nosso corpo, cujo papel é reconhecer e, então, destruir ou inativar qualquer estrutura considerada estranha – como uma bactéria ou uma célula cancerígena. Para atacar quando e onde for necessário, ele conta com diversos órgãos, como o timo, as amídalas e a medula óssea, onde são produzidos diversos tipos de células de defesa, assim como a pele, que é uma barreira natural contra microrganismos.
Ele possui também tecidos – que são grupos de células – espalhados por inúmeras partes do corpo, como no intestino. As crianças já nascem com parte desse complexo sistema pronto e ele vai se desenvolvendo aos poucos. Por conta dessa imaturidade, então, elas tendem a ficar doentes com mais frequência, mas é normal. Uma criança saudável, na faixa etária dos 2 anos, pode ter até oito resfriados ao ano. E se ela já vai à escola, o número pode aumentar para 14.
DICAS PARA FORTALECER AS DEFESAS
Sim, dá para ficar tranquilo, porque, de fato, as idas ao pronto atendimento e as mensagens fora de hora para o pediatra vão diminuir com o tempo. No entanto, há algumas medidas que podem dar um “up” na imunidade do seu filho desde agora – e que vão ajudar a protegê-lo não só nas estações mais frias, como no ano inteiro. Confira a seguir.
O tipo de parto e a iminuidade do bebê
O sistema imunológico inicia seu desenvolvimento ainda no período gestacional. Até pouco tempo, acreditava-se que o útero era um ambiente praticamente estéril. Mas atualmente já se sabe que o recém-nascido possui um microbioma simples (conjunto de bactérias, fungos, vírus e outros microrganismos que habitam nosso corpo e desempenham diferentes funções) ao nascer. Além disso, o pequeno também recebe anticorpos (células de defesa) da mãe via placenta – o que só aumenta a importância da vacinação na gestante. As vacinas, nesse caso, também têm o objetivo de imunizar o bebê.
Cada vez mais estudos mostram que o parto vaginal traz benefícios nesse sentido. A explicação é simples. Ao passar pelo canal vaginal, o bebê entra em contato com os microrganismos da região. Isso é uma vantagem, pois o tal microbioma, de que falamos, tem de ser estimulado para funcionar cada vez melhor. O que acaba acontecendo, principalmente, à medida que o organismo é apresentado a outras bactérias e afins. E o processo continua ao longo da vida, como você vai ver nesta reportagem.
Amamentação fortalece a imunidade
Durante o aleitamento, o bebê recebe anticorpos maternos presentes no leite. Tanto que o colostro, ou seja, o leite produzido pela mãe logo após o parto, é considerado a primeira vacina. Uma pesquisa realizada em 2018 pela Universidade de Georgia (EUA), só para você ter uma ideia, encontrou no leite materno células linfoides inatas (ILC, na sigla em inglês) do tipo 1. As ILC funcionam como uma espécie de general entre as células do sistema imunológico, porque sinalizam as partículas indesejadas que os macrófagos (células de grandes dimensões que “engolem” microrganismos) devem atacar.
Mas a influência da amamentação na construção da imunidade não para aí. Somado a isso, o contato com os microrganismos da pele da mãe, que entram pela boca do bebê, também favorece a colonização do microbioma do intestino dele.
As terminações nervosas presentes na aréola “interpretam” a saliva do bebê e produzem o leite de acordo com as necessidades do pequeno naquele momento.
Vacinação em dia
Paralelamente à amamentação, o bebê vai começar a receber outras vacinas. Nem sempre de forma agradável, claro, mas a dor passa e a saúde fica! E não é à toa que a carteira de imunização do pequeno começa a ser preenchida logo na maternidade. Sabemos que, de modo geral, a alimentação, as atividades físicas e o repouso favorecem o funcionamento do sistema imunológico como um todo. Mas qualquer pessoa que siga essas recomendações de saúde vai adoecer ao ser contaminada por certos agentes infecciosos, seja uma criança, seja um atleta, pois o nosso organismo nem sempre é capaz de combatê-los cem por cento. É aqui que as vacinas entram e é fácil entender como elas agem. Cada dose contém partículas do agente agressor, seja vírus, seja bactéria, mas sempre na forma atenuada ou inativada (morta). Dessa forma, o organismo produz anticorpos específicos contra ele sem ficar doente. E, então, quando entrar em contato com o mesmo microrganismo no futuro, será capaz de eliminá-lo porque já terá desenvolvido uma espécie de memória imunológica, antes que a doença se instale.
Alimentação saudável
Uma alimentação balanceada, que prioriza alimentos naturais como frutas, verduras e carnes magras é, sem dúvida, a base para uma vida saudável. Diversos nutrientes, dos minerais às vitaminas, participam dos processos antioxidantes que protegem as células. Além disso, vale destacar que o organismo precisa de proteínas para desenvolver os anticorpos. Uma pesquisa recente da Universidade Brown (EUA) mostrou que a vitamina A, por exemplo, presente em leites e queijos, ovos, batata-doce e frutas como manga e mamão, desempenha um papel essencial no equilíbrio do microbioma intestinal e, por consequência, do sistema imune.
Assim sendo, o que você põe no prato do seu filho influencia diretamente no conjunto de bactérias, sejam boas ou ruins, que vivem por ali. Tanto que, de acordo com a especialista, o microbioma de pessoas da mesma família, que tendem a se alimentar das mesmas coisas, é semelhante. Nesse contexto, os alimentos in natura, por serem ricos em fibras, são mais indicados para o bom funcionamento do aparelho digestivo.
Fonte: Crescer