Você já reparou se seu filho tem tempo para descansar de verdade?
Minha mãe sempre foi daquele tipo que acredita no poder da rotina. Como toda boa virginiana, ela “chefiava” a casa com uma agenda na mão: meu dia e o de minhas irmãs era organizado para que tivéssemos tempo para tudo: ir à escola, almoçar, fazer lição, ir à natação, brincar… E descansar. Sim, fazia parte das “tarefas” que tínhamos que cumprir ficar uma hora sem fazer nada. Podia ver TV? Não. Tablet não existia naquele tempo. Mesmo os brinquedos ficavam de fora desse momento, que era destinado basicamente a tirar uma sonequinha, ou simplesmente ficar na cama, ou no sofá, pensando na vida.
Pode parecer estranho aos olhos das mães de hoje, mas eu acredito que o desenvolvimento desse hábito foi muito importante para o meu desenvolvimento. Logo depois do almoço, e antes de pegar no batente dos livros, tínhamos um tempo para refletir, diminuir o ritmo, e entrar em conexão com os próprios pensamentos. Minhas irmãs, quase que diariamente, caíam no sono por meia hora. Eu, que achava um desperdício passar esse período dormindo, acabava ouvindo uma boa música, refletindo sobre os acontecimentos do dia.
Acredito que nesses momentos eu tenha tido oportunidade de me interessar pela leitura (essa, sim, estava liberada), e tenha exercitado um movimento importante: o de olhar para dentro, de me fazer algumas perguntas: “Estou feliz? Estou triste? Por quê? O que está me incomodando? O que preciso fazer para melhorar?”.
Durante essa hora, eu podia sentir o passar do dia, da semana, do mês, do ano – porque estava parada, e via o mundo girar. Isso me dava uma tranquilidade imensa, porque não me sentia engolida pela rotina. Era como se eu não precisasse correr o tempo todo, o que me dava a sensação de segurança.
Pensando no que ocorre com a geração dos nossos filhos, percebo que eles têm cada vez menos chance de ter um momento como esse.
Correm de um lado para o outro para cumprir os horários da escola e dos muitos cursos extracurriculares. Saem mais cedo e voltam mais tarde para casa, seja porque o trânsito aumentou, ou porque voltam de perua escolar. E chegam ao fim do dia com aquela sensação de que não fizeram nada, pois tiveram os minutos atropelados pelo excesso de atividade.
Com todas as horas do dia em que estão acordados preenchidas, nossos pequenos não conseguem apreciar a beleza do céu, sentir o cheirinho de uma folha, não ouvem o barulho da respiração, quando deitados na cama.
Guardar um momento do dia do seu filho para que ele descanse é fundamental para que aprenda a lidar com ele mesmo, para que se sinta bem em sua própria companhia. Sem fazer nada, sem se distrair com outras coisas. É dar chance para a criatividade aflorar, e os sentimentos aflorarem. É criar uma criança mais preparada para habitar esse mundo de correria que nos rodeia.
Por – Nívea Salgado