Adriana Ronchetti afastou os móveis e guardou os enfeites que quebram. “Abri mão da casa totalmente organizada. Virou um espaço mais aberto, com pouca necessidade de arrumação”, conta a mãe de Beatriz, de 5 anos, e Gustavo, de 8. “Também fizemos a parede da quarentena. Tudo o que desenhamos sobre a família, o coronavírus, é colado lá.” Com as fotos pessoais, ela criou um jogo da memória para os filhos encontrarem pares de imagens dos mesmos momentos.
“A escola caprichou em incluir atividades e intervalos de brincadeiras”, diz Adriana sobre o material enviado pelo Colégio Porto Seguro para os filhos. “Estamos com as emoções afloradas pela crise na saúde, financeira. Mas, dentro do nosso privilégio, já que não estamos doentes nem passando fome, em vez de enlouquecer com os filhos, podemos aproveitar essa reconexão”, afirma a psicóloga especializada em crianças e adolescentes. “Falo como mãe: a saída é baixar a expectativa de manter a organização e até da brincadeira perfeita. Vamos fazer o simples.”
O que escolher varia conforme a fase da criança ou do adolescente. Os pequenos embarcam em atividades tão simples quanto identificar as partes do corpo diante de um espelho. “É importante também garantir momentos de liberdade, botar músicas para cantar e dançar”, lembra Liss Matos, tutora de crianças de 2 a 6 anos na Escola Lumiar Internacional de Santo Antônio do Pinhal.
Ler em família e assistir a uma contação de história, especialmente para quem tem até 5 anos, também pode ser prazeroso. “Com o ritmo acelerado da vida moderna, temos percebido como as tradições orais foram perdendo espaço. Histórias tradicionais da literatura que, antes eram conhecidas por todas as crianças, não são mais”, afirma Luciana Gomes, diretora pedagógica institucional de educação infantil e fundamental I do Porto Seguro.
“As histórias de ação e aventura fazem muito sucesso em todas as faixas etárias, principalmente até os 8 anos. A partir dos 9 anos, já é possível incluir histórias de suspense. Os clássicos sempre são uma boa pedida”, diz a educadora. Luciana sugere que espaços e objetos sejam usados para ambientar o enredo. “A cama pode tornar-se um navio ou uma nave, embaixo da mesa pode ser uma cabana. Basta soltar a imaginação.”
Como antigamente. Os pais podem resgatar parlendas, cantigas e brincadeiras para reviver com os filhos. “Que tal conversar sobre os jogos de infância? Stop, dominó, dama e outros podem estar guardados na memória ou no armário”, diz Lilian Gramorelli, coordenadora pedagógica do Colégio Marista Arquidiocesano.
O fundamental é perceber o que os filhos curtem. “Neste tempo, é muito importante que as crianças de todas as idades façam atividades de que gostem, como assistir a filmes, séries, ler livros e jogar, de acordo com cada faixa etária”, ressalta Mayra Ivanoff Lora, diretora pedagógica do Colégio Bandeirantes.
A médica Monique Nakayama Ohe segue essa recomendação com os filhos, Maria Yumi, de 13 anos, e Rafael Kenzo, de 11. Durante a semana, cumprem a parte pedagógica proposta pelo Bandeirantes e, a partir da sexta-feira à noite, começam as sessões de cinema em família. “A gente ama ver filme. Uso para discutir alguma temática. Por exemplo, Jojo Rabbit para conversar sobre nazismo. Com Luta por Justiça a gente traz o racismo”, diz Monique. “Assim, cresce neles a solidariedade e os valores que cultuamos como corretos. Quando tudo passar, quero me sentir orgulhosa do que fizemos nesse período.”
DIVERSIFIQUE
DE 2 A 5 ANOS
– Movimento: Para crianças de 2 anos, segundo Priscilla Mattos, professora de Educação Física da Escola Stance Dual, os pais podem montar um circuito de obstáculos (usando almofadas e pufs), brincar de estátua e pedir para imitarem animais (rastejando, saltando, rolando). “Há atividades acessíveis e gostosas, como se equilibrar sobre uma linha de fita crepe no chão e fazer cabanas com lençóis e cadeiras”, diz Joana Elkis, coordenadora pedagógica da educação infantil do Colégio Equipe.
– Diversão: Com 3 ou 4 anos, Priscila, da Stance Dual, sugere brincadeiras como elefantinho colorido (uma cor é escolhida para os pequenos encontrarem um objeto com aquele tom), morto-vivo (trabalha a atenção e a coordenação motora ao se levantarem ou se abaixarem conforme a palavra dita) e mestre mandou.
– Culinária: Meninos e meninas gostam de explorar texturas e aromas, então atividades na cozinha costumam fazer sucesso. “Os pais podem fazer momentos rotineiros se tornarem grandes experiências. Por exemplo, assar um bolo, prová-lo e conversar sobre os ingredientes, de onde eles vêm”, diz a professora de educação infantil Dora Amaral.
– Descobertas: Não estranhe se seu filho quiser ouvir uma só música seguidamente. “Nessa faixa etária, a criança costuma repetir dezenas de vezes um mesmo filme, uma mesma canção, uma mesma história, até que esgote suas descobertas, pelo menos, para aquele momento da vida”, afirma Rosana Marin, coordenadora de Educação Infantil do Colégio Marista Arquidiocesano. “Ela também se interessa muito por tudo o que envolve cores, meios de transporte, animais, com seus sons e suas características, e natureza, como flor, árvore, chuva e sol.”
– Arte: “Atividades de artesanato são muito bem-vindas, como dobradura e pintura”, diz Liss Matos, tutora da Escola Lumiar Internacional de Santo Antônio do Pinhal. Segundo ela, a criança pode fazer esses trabalhos como presentes que futuramente irá entregar a amigos e parentes. Elementos naturais, como café e cúrcuma, também podem virar tinta, propõe Joana, do Equipe.
DE 6 A 8 ANOS
– Imaginação: Brincadeiras com fantasias, bonecos ou fantoches, aguçam a capacidade de inventar histórias. Fazer mímica e teatro de sombras são outras possibilidades. A criatividade entra em cena em atividades como colagens com sementes.
– Desenvolvimento: Nesta fase, letras e números ocupam um espaço crescente na vida de garotas e garotos, ano após ano. As atividades pelas quais se interessam passam a incluir, cada vez mais, esses aspectos. Por isso, até fazer uma lista de supermercado pode virar brincadeira, tendo o pequeno ajudante como anotador. Joana, do Equipe, sugere organizar os livros em ordem alfabética e nomear objetos da casa, colando sobre eles etiquetas escritas pela criança.
– Lógica: “Adoram atividades que envolvam o raciocínio, kits de experiências e construção como os de robótica, jogos de cartas e tabuleiro, revistas de passatempo e quebra-cabeças mais elaborados”, diz Luciana Gomes, diretora pedagógica institucional de educação infantil e fundamental I do Colégio Porto Seguro.
– Físico: Para gastar a energia acumulada dentro de casa, os pais podem improvisar uma corrida do saco com crianças de 7 ou 8 anos, propõe Paulo Henrique Pozzebon Scabora, professor de Educação Física da Escola Stance Dual. “Dentro de saco de lixo ou lençol amarrado, os participantes terão de percorrer pulando um percurso, que pode ir se alterando a cada rodada”, diz.
DE 9 A 12 ANOS
– Coordenação: Cleber Rosseli, professor de Educação Física da Escola Stance Dual, recomenda investir em jogos de aptidão motora simples, com os mais novos dessa faixa. Uma ideia é o boliche com seis garrafas plásticas, organizadas no formato de um triângulo. “O objetivo é derrubar as garrafas lançando uma bola com as mãos ou os pés.”
– Desafio: Os mais velhos encaram atividades um pouco mais complexas, como um “pré-esportivo para basquete”, propõe o professor da Stance Dual. “Sentada, a criança tem de arremessar uma bola em um cesto de lixo a três metros de distância.”
– Jogos: Valem de cartas a tabuleiro. “Nessa idade, a criança já é capaz de aprender a lidar com a frustração de perder. Os jogos contribuem para que tenha consciência do outro e de que o mundo é regido por regras”, diz Luciana, do Porto Seguro.
– Expressão: Dalila Parente, coordenadora pedagógica da Escola Lumiar Pinheiros, diz que nessa fase cantar músicas até em outras línguas já está entre as possibilidades. “Buscamos também ferramentas com linguagens diferentes, sem focar só na escrita, como sites de tirinhas, histórias em quadrinho e stop motion.”
– Discussão: Assistir a filmes e conversar em família é uma boa atividade para quem tem de 10 a 12 anos, segundo Mário Fioranelli Neto, coordenador de Humanidades e dos projetos de Tutoria e Convivência Ética do Centro Educacional Pioneiro. Uma sugestão é ver Bem-vindo a Marly-Gomont e perguntar às crianças o que pensaram sobre o preconceito sofrido pelos personagens.
DE 13 A 17 ANOS
– Exercícios: Aqui entram alongamentos, agachamentos e flexões abdominais. São recomendadas, segundo Rosseli, da Stance Dual, “atividades que estimulem habilidades motoras e capacidades como domínio corporal, flexibilidade e força, visando à superação do próprio desempenho”.
– Inventividade: Ferramentas que combinam imagens, texto e movimento são indicadas. “É interessante trabalhar a criatividade com aplicativos. Adobe Spark Video, Sway, Forms, Flipgrid, Padlet, Popplet, EdPuzzle, Phet, Peergrade e Geogebra podem ser excelentes opções”, diz Mayra Ivanoff Lora, diretora pedagógica do Colégio Bandeirantes.
– Reflexão: Para adolescentes, Fioranelli Neto, do Centro Educacional Pioneiro, propõe que os pais questionem os filhos sobre o filme DivertidaMente. “No isolamento social, qual das três personagens tem estado mais presente e de que forma? Nojinho, Tristeza, Alegria?”, sugere. “A intenção é produzir um lugar de fala e escuta, sem certo ou errado, só para expressar sentimentos.”
Fonte: O Estado de São Paulo