O aumento de peso ao longo da pandemia da Covid-19 não é um assunto limitado somente aos adultos. Uma nova pesquisa, realizada nos Estados Unidos, publicada na revista Jama na última semana, mostra que o período também teve impacto no número visto na balança de crianças e adolescentes.
Entre esses meninos e meninas presentes no estudo, os que mais apresentaram mudança no índice de massa corporal (IMC) — média que considera os quilos na balança em relação à altura — são os que têm entre 5 e 11 anos. Nesse público, ao longo da pandemia, a taxa de indivíduos com sobrepeso ou obesidade saltou de 36,2% para 45,7%.
O estudo estende uma lupa entre dois intervalos de tempo, para compreender se essa variação ocorrida ao longo da prevalência da Covid-19 estaria dentro do esperado. Portanto, avaliou-se a mudança de IMC dos participantes entre março de 2019 e janeiro de 2020 em comparação com março de 2020 e janeiro de 2021 — após o surgimento da pandemia.
A conclusão é que, sim, os jovens ganharam mais peso ao longo da pandemia do que antes dela. Os percentuais de crianças com obesidade ou sobrepeso de 12 a 15 anos passou de 38,7% para 43,4%, do grupo avaliado, desde o início da circulação do coronavírus até janeiro deste ano. Entre os que tinham 16 a 17 anos, passou de 36,5% para 38,2%.
O ganho de peso, além do esperado, ao longo da pandemia, em geral, foi de 2,3 quilos para crianças de 5 a 11 anos de idade e de 2,31 quilos aos que tinham entre 12 e 15 anos. Os mais velhos, de 16 e 17 anos, ganharam 1 quilo, em média.
A análise considerou dados gerais de 191 mil crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos, nos Estados Unidos, sem doenças graves relacionadas. Os pesquisadores estão ligados à Universidade de Michigan e à entidade relacionada à cobertura de planos de saúde Kaiser Permanente, na Califórnia, responsável por prover os dados.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Fábio Viegas, explica que a obesidade e o sobrepeso ganham contornos de maior atenção ao longo da infância e adolescência por conta de um efeito conhecido como memória celular — que pode facilitar novos quadros de ganho de peso no futuro.
— Uma criança obesa tem maior chance de ter obesidade na vida adulta. Além disso, ela desenvolve mais precocemente as doenças relacionadas a esse quadro de saúde— diz o médico.
Estudo Brasileiro
Uma análise publicada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, e a Universidade Estadual de Campinas, em dezembro de 2020, jogou luz ao estado geral de adolescentes e jovens de 12 a 17 anos ao longo da pandemia. A pesquisa, feita por meio de formulários virtuais, mostrou que o tempo sedentário — sem atividades que movimentam o corpo — aumentou cerca de 2 horas ao longo da pandemia.
Em relação à alimentação, o mesmo estudo mostrou que o consumo de alimentos como pratos congelados e doces aumentaram 4%. No período, consumo de doces e chocolates duas vezes por semana foi de 58,1% entre as meninas e 46,9% entre os meninos.
Os que não praticavam nenhuma atividade física, por 60 minutos, em nenhum dia da semana passou de 20,9% para 43,4% após a chegada da Covid-19.
Fonte: O Globo