Como diz o ditado judaico: Deus não podia estar em todos os lugares e, por isso, fez as mães.
Conseguir exercer a tripla função de mãe, mulher e dona de casa, e ainda adequar com a carreira, é um malabarismo que nos exige equilíbrio e autoconhecimento. É preciso jogo de cintura para conciliar a agenda profissional e familiar. Mas tudo é questão de foco, determinação e de escolhas diárias.
Contudo, é preciso ter em mente que a maternidade ainda é um grande obstáculo para a carreira das mulheres brasileiras. Segundo pesquisa divulgada pela empresa de recrutamento Catho, as mães deixam o mercado de trabalho cinco vezes mais que os pais. O levantamento também concluiu que 28% das mulheres deixam o emprego após a chegada dos filhos, versus 5% dos homens, apenas.
Além dos grandes entraves culturais e, infelizmente, muito preconceito, ainda está fortemente intrínseca em nossa sociedade o padrão machista, retrógrado e discriminatório de que o homem é quem sai para trabalhar e que lugar de mulher é em casa, cuidando dos filhos.
Contudo, os tempos mudaram e essa cultura teve que ser formatada, pois a mulher moderna divide com o homem o orçamento familiar e, em razão disso, também precisa trabalhar para pagar contas. Tornamo-nos, igualmente, provedoras. E neste lugar, a mulher enfrenta desafios enormes.
Adotando um tom de informalidade, podemos dizer que as empresas não são muito parceiras das mães. Mesmo que obedeçam ao mínimo legal e cumpram as normas que as protegem, ainda não facilitam e discriminam a mulher. De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), 50% das mulheres são demitidas até dois anos após a licença maternidade, por exemplo.
É evidente que existe uma pressão, ainda que travestida, a desfavor da natalidade e com a posição de que não é lucrativo arcar com os custos da licença maternidade, que exige uma reposição da funcionária, assim como liberá-la de sua jornada regular, que fica encurtada para amamentação.
Agregue-se a isso, o mito de que a mulher possa perder o ritmo, sair da cadência e até se desatualizar quando se torna mãe. Puro preconceito. A maternidade não impede reciclagem e tampouco emburrece, pelo contrário.
Segundo estudos da Royal Holloway, durante a gestação, as mães sofrem um aumento das atividades do lado direito do cérebro, o que significa melhora em suas habilidades cognitivas como criatividade e relacionamento interpessoal.
Felizmente, um novo olhar vem surgindo e há empresas sensíveis à questão da maternidade, apoiando e contribuindo para que as mães possam desempenhar seus papéis com menos sofrimento e angústia, em ambos os ambientes.
Grandes empresas brasileiras, por exemplo, já preferem mantê-las em postos estratégicos, por reconhecerem as responsabilidades e uma garra inenarrável. E neste novo cenário, as mães estão ocupando posições de destaque no mercado de trabalho, o que revela avanços neste campo. Contudo, ainda que se possa festejar, o exercício concomitante da maternidade e trabalho é desafiador.
Lembro quando escutei pela primeira vez uma frase, que só muito mais tarde, quando tive minha primeira filha Laura, hoje com 17 anos, me fez sentido: “Quando nasce uma mãe, nasce uma criança e nasce junto, a culpa”. Realmente uma dualidade massacrante se estabelece dentro de nós: largar tudo, abdicar de nossa carreira e realizações pessoais, ou trabalhar e se sentir eternamente em dívida com os filhos.
Sem querer desmerecer os homens, a razão disso é que amamos demais. É o sublime instinto maternal, que nos mantém permanentemente conectados aos nossos filhos. Algo genético, antropológico e hormonal, além de nossa compreensão. Só mesmo quem já passou pela experiência de ser mãe, sabe como é duro sair de casa e deixar os filhos, que tanto amamos, para ir trabalhar. Mas com autoconhecimento e até mesmo movidas pela necessidade econômica, a culpa vai sendo atenuada e transformada em algo muito maior. O trabalho agrega sentido à nossa vida e à família.
Neste lugar, em que somos plenas, nossos filhos se tornam nossos próprios parceiros, principalmente se soubermos nos dedicar e mostrar que eles são e sempre serão a melhor parte de nós mesmas. E assim, quando saltamos, eles saltam conosco.
Fonte: Estadão